Menos é mais

Menos é mais

18/04/2017 1 Por Felipe Cazolari
Alguém já viu um bebê correr antes de andar ou saltar antes de engatinhar? A vida segue uma ordem natural e no Muaythai não é diferente. Vemos atletas que não sabem andar no ringue mas querem dar aqueles golpes especiais de videogame.
 
Muaythai é arroz e feijão, saber andar, se posicionar, reconhecer e trabalhar nas diferentes distâncias de acordo com sua estratégia, usar os golpes certos para cada uma, e saber como se transferir de uma pra outra; saber como chegar e entrar no clinche; a distância e maneira correta de boxear; posicionamento de base para andar pra frente ou pra trás; ter o tempo de entrada de um cotovelo, enfim,  esses são fatores realmente importantes que um lutador de Muaythai deve aprender e aperfeiçoar, não só no início mas durante toda sua carreira.
 
Quesitos esses que muitos atletas até profissionais no Brasil estão carentes. Não sabem cercar um adversário no ringue, mas querem fazer firulas, rodados, saltados… Não que esses golpes​ não valham, são golpes que se nocautear ok, mas do contrário ficam desequilibrados, e geralmente expostos em sua volta. Lutadores ficam caindo no chão, o que é uma coisa ruim na pontuação, já que muaythai se luta em pé. Cair já é péssimo, cair sozinho então nem se fala.
 
Luk Muay é a expressão que os Thais usam para a postura do lutador, bater os golpes corretamente. Muitos gringos perdem na Tailândia por conta disso, muita vontade, até força mas fazem tudo errado, enquanto o tailandês na malandragem vai batendo alinhado, nas brechas e levam a luta. Lógico que se brasileiro quiser trocar técnica com tailandês não vai dar certo, e provavelmente o Jos acho que é o único que consegue isso com sucesso. No geral tem que se treinar muito mais para ter vantagem física em força e gás, mas é importante usar essa força e vontade com sabedoria dentro da regra.
 

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Um atleta que admiro muito o trabalho é o Pedro Novaes de Minas Gerais. Na minha opinião é o atleta daqui com a base mais sólida e com jogo simples e eficiente, muaythai de alto nível, joga fácil, moleque diferenciado.
 
Todo esporte tem seus fundamentos. Futebol tem o passe, o chute, no basquete tem arremesso, drible, e no Muaythai não é diferente. O conjunto dos fundamentos com as regras dão identidade ao esporte.
 
Não é porque​ se usa soco que vai socar igual ao boxe inglês, usa chute mas não chuta igual ao taekwondo. Até no MMA tem que se adaptar o Muaythai, o Boxe, o jiu-jitsu para se enquadrar ao esporte. Capoeira ginga, boxe usa esquivas baixas, taekwondo saltita nos movimentos, gato mia, cachorro late, e o Muaythai também tem suas características. Não mude a essência de um esporte ao qual não foi você que inventou.
 
Características, não cartilha! Não acredito em um movimento com uma única possibilidade, “é assim e pronto”, como alguns pregam. Não somos robôs. O que dá certo pra mim talvez não dê certo para o outro. O que dá certo
numa situação ou com um atleta não necessariamente dará certo em outra situação ou adversário. Aí que entra o olhar e orientação do treinador.
 
Hoje estamos muito mais entendidos, se a anos atrás um tailandês viesse ao Brasil e fosse a um evento diria: “Isso não é Muaythai. Sabe a expressão “tem gringo no samba”? Só de olhar, o jeito de se posicionar, de se movimentar já sabemos se sabe o que está fazendo, ou se caiu de paraquedas ali.
 
Dependendo do lugar, do evento, já reconheçam o esporte. Talvez não tenhamos ainda a técnica, a malandragem dos tailandeses, talvez nunca tenhamos, mas estamos evoluindo e entendendo esse jogo. Já podemos falar que lutamos Muaythai, graças a pessoas que buscam conhecimento técnico e informações sobre as regras do esporte.
 
Começamos errados lá atrás com muitas influências de outras artes e ideias equivocadas. Não que um esporte seja melhor que outro. Toda arte marcial é eficiente, vai depender do objetivo que você a treina e da qualidade do lutador.
 
Mas cada um na sua. Se um lutador de Muaythai for numa competição de kickboxing deve entender que não está na sua área, assim como o oposto. Não se ganha um campeonato de xadrez jogando dama, ou se procurar uma aula de guitarra não vai aceitar aprender contrabaixo só porque é “parecido”. Esportes diferentes, regras diferentes, outra dinâmica, postura, fundamentos, tradições, etc.
 
Tem uma discussão de quem iniciou o Muaythai aqui que não leva a nada, o importante é o hoje, e o futuro do esporte, não ficar parado no tempo e acompanhar a evolução. Deixar essa briga de ego de lado e olhar para frente, nos juntar com quem tem o mesmo pensamento e ideias, trabalhar, focar no que interessa e deixar quem não está na mesma vibe fazer o trabalho deles do jeito que acham certo e naturalmente perderão espaço.
 
Aos poucos a informação está chegando em todos os lugares, todos saberão quem é quem, e as pessoas certas tomarão os lugares​ de poder das erradas que estão hoje em dia, estaremos no comando de confederações e poderemos dar as cartas e valorizar o esporte, eventos e atletas com dignidade.
 
Utopia? Talvez, mas eu acredito. Mas isso é com o tempo, enquanto isso seguimos trabalhando dentro das academias e solidificando o esporte dá maneira correta, disseminando informação.
 
A ideia que quero passar hoje é essa, menos é mais, fazer o básico bem feito, com equilíbrio e força, ter uma base sólida, movimentos alinhados. E muita, mas muita repetição. Repetição e correção nos detalhes num ciclo até sua aposentadoria.
 
Muaythai é simples a gente que as vezes complica.