Quem você pensa que engana?
11/04/2017No meu último texto falei sobre o muaythai fitness. Hoje gostaria de falar sobre algo que, de alguma forma, também está relacionado a isso.
Não é novidade nenhuma que atletas são motivados pela superação. Mesmo que você nunca tenha lutado mas já tenha presenciado a preparação de alguém, sabe do que eu estou falando. Você provavelmente viu alguém chorar ou se segurar muito para não fazê-lo e não desabar em pleno tatame, viu alguém sentir muita dor, ou viu alguém com um nível de cansaço quase desumano. Mas com toda a certeza você viu esse atleta à beira de seu limite, naquele último ponto entre o desistir e o perseverar. E ele prosseguiu.
Mas esse alguém é motivado por algo muito simples: subir no ringue. Superar seu adversário, mas, ainda mais importante, superar seus próprios limites.
Mas e você, que não luta e não pretende fazê-lo (pelo menos ainda não), o que te move?
A pergunta parece simples, mas a pegadinha por trás dela é que, não importa qual é o seu objetivo (emagrecer, ganhar condicionamento físico, ter um estilo de vida mais saudável, autodefesa ou simplesmente melhorar suas habilidades técnicas), seu único motor sempre será apenas a sua própria vontade. Mas não é o que eu vejo em diversos alunos.
É extremamente comum que o aluno concentre toda a sua motivação em se locomover até o treino. E a partir do momento que pisa na academia, se esvai toda a sua força de vontade, deixando a cargo do professor a árdua tarefa de incentivá-lo por quase toda a aula. Desde o aquecimento, até os abdominais finais.
Você já pensou que tipo de aluno você é? Há o enrolão, que na frente do professor faz tudo bonitinho e às vezes até se esforça, mas basta que ele vire as costas para levar seu esforço ao zero em uma fração de segundos. Esse cara é aquele que nem conta quantas repetições faz, apenas espera que parte da turma termine para parar também. É aquele que faz tudo numa preguiiiiiiiiiiça… Mas quando ouve aquele “vamos fulano, não para não” estufa o peito e se enche de disposição. Pelo menos até ninguém mais estar olhando.
Tem também o mártir. Tudo é um sacrifício. Tudo é uma choradeira. É aquele aluno que reclama da técnica ou do exercício passado, porque não gosta ou porque não sabe fazer direito. Você pede 20 chutes de esquerda e já ouve um “mas de esquerda? Minha esquerda é tão ruim”, pede trinta abdominais “tudo isso? Não consigo”… É aquele aluno que contamina todo mundo com a preguiça e reclama o tempo inteiro.
Ainda há aqueles que até querem fazer, mas parecem surdos. Geralmente são os que querem bater muito forte no aparador, mas ignoram qualquer correção técnica. Quantas vezes você ouviu (ou disse, se for o professor) “gente, tira a força, foca na postura, primeiro aprende a fazer e depois faz forte”? Pois é, com certeza isso foi direcionado para esse cara, que muito provavelmente chuta com uma força absurda, mas tão reto que no máximo atinge o sovaco do parceiro em um sparring. Mas esse cara tem salvação, só requer um pouquinho a mais de paciência. O difícil mesmo é o aluno poser, que pode ser qualquer um dos três acima, mas termina a aula com sentimento de dever cumprido, aí tira uma foto fazendo cara de mal e posta no instagram com hashtags como #nopainnogain, embora ele mal tenha suado durante o treino.
Pode parecer muito engraçado falando assim, mas a questão aqui é que todos esses alunos estão se dedicando à uma ilusão. E ainda estão jogando dinheiro no lixo. Para o professor? Ótimo, ele precisa se sustentar e viver de muaythai é difícil demais para rejeitar alunos só porque eles fazem corpo mole. Mas e você? Está enganando a quem? Não é porque o professor estava de costas quando você deu aquele famoso migué, que ele não percebeu que você está enrolando. E mesmo que fosse esse o caso, afinal de contas você não está fazendo muaythai justamente para emagrecer? Ou para ter um condicionamento físico melhor? Ou para ser mais saudável? E como você acha que vai alcançar isso, se em vez de se esforçar em melhorar é o primeiro a reclamar do que é pedido?
Especialmente se o seu objetivo é emagrecer, você deveria ser o mais dedicado, porque presença na aula não muda o seu peso na balança! Se te pediram 30 abdominais, faça os 30! Se você não consegue fazer no mesmo ritmo dos outros alunos, faça mais devagar, pare quando realmente não aguentar mais, respire por alguns segundos e volte a fazer, mas termine sua série. Ninguém vai te olhar feio por demorar um pouco mais. Mas complete o exercício, pois só assim você vai passar a aguentar fazer tudo que é pedido, e é assim que você vai alcançar o seu objetivo, seja ele qual for.
Então da próxima vez que pensar em reclamar na aula, ou em chamar o professor de carrasco, pense no quanto você está se dedicando para alcançar suas metas e que isso depende única e exclusivamente de você. E economize seu fôlego, porque no final ainda vai ter uns minutinhos daquela maldita prancha.
[…] Recentemente falei aqui sobre força de vontade e como deve partir dos alunos a iniciativa para evol…. Hoje gostaria de falar sobre o outro lado dessa equação. Qual é a imagem que seus alunos têm de você e como você os motiva? […]