“Estou melhorando, mas vai morrer muita gente” #quarentenayoksutai

Não teremos lutas pelos próximos meses. Academias estão fechadas e não há conteúdo novo de muaythai.

Decidimos contar histórias e depoimentos de como a comunidade do muaythai tem lidado com a pandemia de coronavírus.

No primeiro relato Helião, que inaugurou sua academia em janeiro, mas ja se viu obrigado a fechar.

“Se eu falir eu vou ter a chance de voltar, mesmo que seja catando latinha. Se eu morrer eu não vou voltar. Eu tenho que fechar e esperar pq a vida vale mais que qualquer moeda.”

Gosto de puxar manopla em todas as aulas. É o meu jeito de suar e praticar para me manter rápido. Ao mesmo tempo eu me perguntava: “E se eu pegar isso aí? E se eu não conseguir?”

Foi muito ruim falar para os alunos falar que não iria mais dar aula. Já estava há 3 dias dando aula cheio de medo mas aí eu vi que eu tinha uma família. Os alunos se reuniram e disseram: “nós vamos segurar as pontas e queremos vc de volta quando passar essa fase ruim”.

Estava fazendo uma saladinha para o jantar e começou a me dar uma falta de ar. Corri para o hospital e estavam achando que fosse infarto, já cheguei sem ar.

Eles medem sua pressão, batimento… se vc der sorte vão botar um soro na veia e tratar com dipirona. Me deixaram lá parado, sem ar, até a triagem que demorou pra cacete. Na rede pública não tem teste de coronavírus para todo mundo.

Ninguém faz teste nenhum, nem antes, nem depois e falavam assim: Você vai pra casa e vai ficar 20 dias isolado. Só vai voltar pra cá se o estado for realmente grave.

Mas o que é realmente grave? Já fui pra lá sem respirar, passando mal, todo ferrado. Grave é chegar dentro da ambulância do SAMU, que leva 6h para chegar na sua casa, com você roxo?

Fiz exame sangue às 21h, peguei o resultado às 6h, sentado a noite toda, sem ar todo ferrado. O médico que ia me atender chegou às 10h. Fui sentar na frente dele 10h30 e ele disse: Você deveria ter ido para as Clínicas. Toma dipirona se tiver febre e volta se tiver mal.

Fui para as Clínicas no dia seguinte. A médica olhou e me deu remédio para H1N1. Voltei pra casa com a mesma falta de ar. Fui noutro médico e disse que era princípio de pneumonia… mas ninguém fez teste de nada.

Estou há 10 dias isolado, melhorando, mas vai morrer muita gente no Brasil. Hospitais estão lotados, mas estão atestando que morreu de pneumonia, gripe, o cacete a quatro”.

Helio Nogueira, treinador

Vamos contar histórias sobre nossos lutadores, treinadores, sobre as pessoas do muaythai #quarentenayoksutai

Acompanhem o @yoksutai