Pensando em desistir
12/10/2016Há dias bons e dias ruins. No muaythai, como em qualquer outro aspecto de nossas vidas, há aqueles dias em que nada dá certo. Logo no começo da corrida você percebe que o corpo não rende, o gás não vem e você passa a maior parte do caminho dizendo mentalmente “só mais um pouco, só mais um pouco”. No pao, você não encontra seu ritmo, não consegue encaixar os golpes e não desenvolve. A concentração simplesmente decidiu faltar. E cada erro piora ainda mais a situação.
Lembro que quando comecei a treinar, sempre ouvia que nesses dias é melhor nem aparecer no treino, porque nada dá certo e você sempre acaba se machucando. E não deixa de ser verdade, porque treinar de cabeça cheia é sempre mais difícil, e se você for tão perfeccionista quanto eu, acaba se afetando ainda mais a cada falha. E assim eu perdi vários dias de treino, mas quando ouvia o que tinha perdido me arrependia, e a vontade de treinar aumentava ainda mais.
Só que quando você está se preparando para uma luta, não existe essa opção de simplesmente faltar. Você se lembra que seu gás ainda não está bom, que você ainda não está rápido o suficiente, e, principalmente, que seu adversário provavelmente não faltará no treino de hoje, e então você veste toda a sua teimosia e vai mesmo assim.
Ainda tem aqueles dias em que a coisa parece que engrena, você esquece de tudo e vai para casa com a sensação de ter tomado a melhor decisão do mundo em não faltar. Mas tem aqueles dias negros em que tudo dá errado, você persiste, mas parece que não é pra ser.
Já me peguei tendo todo tipo de pensamentos nesses dias. Não aguento mais. Por que eu decidi fazer isso? Será que eu sou boa o bastante? Não consigo. Mas se você realmente quer lutar, se é disso que você é feito, você não vai aceitar e não vai desistir, porque nessa hora, não há dor, desânimo ou insegurança que seja capaz de impedir você.
E é nesse momento que você começa a se conhecer melhor, porque você sabe que é capaz, afinal, você já fez esse treino antes, você já suportou a dor antes, você já venceu. E podem ser as horas mais torturantes que você já experimentou, mas o desejo de se superar é maior. E aquele pensamento de vencedor te domina.
A dor vai passar. Você pode fazer melhor. Você vai fazer melhor. O que importa é você saber que deu tudo de si. Isso é tudo que você consegue fazer? É claro que não.
No final, cada gota de suor, cada lágrima, cada pontada de dor e cada hematoma te fazem maior. Porque sua vontade é maior que sua preguiça. Porque a sua determinação é maior que a sua fraqueza. Porque o seu sonho é maior que a sua dúvida. E você é maior que qualquer obstáculo. Porque a questão não é se você é melhor que o seu adversário, mas que você se doou cem por cento. Que você foi além dos seus limites, que persistiu quando nem você mesmo acreditava que podia continuar, que continuou quando a dor disse que você não podia mais, que você deu o máximo de si a cada segundo. Porque quando você subir no ringue, vai ter a tranquilidade de saber que está pronto, que você se dedicou e que merece a vitória.
Então, quando você estiver em um desses dias negros, pensando em desistir, tentando segurar o choro para que ninguém pense que você é fraco, tentando não demonstrar o cansaço para ninguém achar que você é limitado, repetindo pela milésima vez o mesmo movimento porque você não pode aceitar que não consegue, não se sinta diminuído por não render o quanto você sabe que é capaz. Apenas respire e se lembre que o maior obstáculo entre você e o seu sonho, é o tamanho da sua vontade de vencer.
E aí? De que tamanho é o seu coração?
Fala sobre as mulheres na luta, e o quanto acham que somos incapaz. Somos?