Teimosia nossa de cada dia

Teimosia nossa de cada dia

25/10/2016 0 Por Nathalia Viana

Eu sempre fui teimosa. Provavelmente sempre serei. Não vejo isso como um defeito, é bem possível que essa característica seja a responsável por toda a evolução que tive até hoje dentro do esporte (não que seja lá grande coisa, afinal, ainda estou engatinhando nisso).

Um atleta não pode ser conformado. Se você aceita facilmente o fato de que não é capaz de fazer algo, de que não é bom o suficiente, de que não está preparado… Sinto informar, mas você provavelmente não é um atleta. Pelo menos ainda não.

Essa teimosia sempre pode ser desenvolvida, ou por um treinador de olhar apurado que enxerga potencial onde nem você mesmo vê, ou pode ser despertada, muitas vezes inspirada por outros atletas. Mas para todo atleta, ela é imprescindível.

Uma das minhas grandes inspirações no esporte não é um lutador. Desde que li o livro do treinador Bernardinho “Transformando Suor em Ouro” — leitura que recomendo para atletas, treinadores, empresários e para a vida —, me convenci de que os grandes atletas nada mais são do que grandes teimosos. Ele mesmo, um perfeccionista obcecado por mais e mais treino, nunca se considerou um grande talento, mesmo tendo jogado na seleção brasileira de voleibol, mas insistiu, se condicionou a ser o melhor, e quando faltava técnica ou talento, a vontade compensava.

E quem nunca ouviu aquela pergunta “você prefere um atleta esforçado ou um atleta talentoso?” Nunca ouvi alguém preferir o talento. É claro que talento é ótimo, e significa ter meio caminho andado, mas a vontade supera o talento porque o esforçado sabe que precisa melhorar e se dedica a isso. Ele não aceita que não pode ser bom e não vai desistir enquanto não se tornar grandioso.

A maior prova de que atleta é um grande teimoso é a rotina. Quem mais acorda cedo, encara trânsito, trabalha (seja com o próprio esporte ou não) o dia inteiro, encara o trampo em semana de bater peso e ainda acha disposição para treinar pesado e fazer tudo de novo no dia seguinte?

Mas a teimosia nem sempre é aliada. Leva um tempo para o teimoso aprender a ouvir, aprender a aceitar críticas, entender que está errado. É por isso que dizemos que o esporte molda o caráter, porque grandes atletas são teimosos sem perder a humildade. O atleta precisa saber escutar, às vezes fazer o oposto do que gostaria, precisa saber confiar. O atleta precisa acreditar em si mesmo sem se tornar arrogante, mas mais do que tudo, o atleta precisa desejar a vitória, e precisa ser teimoso o bastante para agarrá-la a qualquer custo.

O problema é que a trajetória até o topo é árdua. Se tornar o melhor exige tudo do nosso corpo e da nossa mente. E não existe nada mais frustrante para um lutador do que chegar a seu limite.

O pré-luta é o verdadeiro teste de ouro. Os treinos são elevados ao máximo e o seu corpo beira o limite diariamente. Dieta, desidratação, fome e cansaço tomam conta do corpo e da mente. Nessa hora, se conhecer é essencial. Saber até onde você é capaz de ir para dar o seu melhor, mas não forçar demais para não acabar se lesionando é o grande desafio.

Seu corpo não responde como você sabe que é capaz, a frustração é constante. Saber que você pode dar mais e não conseguir é o pior pesadelo de qualquer atleta. Nessa altura você já é só coração. Tudo parece te dizer que você não é capaz, que não dá mais para continuar, que você já chegou ao seu limite. Mas você não para. Você precisa continuar, você precisa dar o seu melhor. Porque tudo pode te dizer que você não é capaz, mas sabe como é, você é teimoso.

 

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