Vá e vença

Vá e vença

07/03/2017 1 Por Felipe Cazolari

Em qualquer esporte o atleta passa por um turbilhão de sensações antes de uma competição. Ansiedade, medo, adrenalina, risco de frustração. Na medida certa essas emoções são benéficas, nos colocam em estado de alerta e aumentam nossa concentração, foco e tempo de reação.

O nível de stress que essas emoções causam variam de pessoa pra pessoa, tem atletas que começam a sentir esses “sintomas” no dia em que a luta é marcada, vai remoendo isso até a hora que sobem ao ringue. Outros parecem tranquilos, confiantes, até chegar o dia, então, quando entram no ginásio, aquela energia, o ringue onde irão lutar, o cheiro do óleo, o barulho da torcida, do gongo, pronto, essas emoções vêm à tona de uma só vez, a ficha cai naquele momento. Já presenciei algumas vezes atletas inexperientes com a mão já feita passarem mal e não terem condições de lutar. Outros mais experientes porém, é como se ir lutar e ir comprar pão na padaria fosse o mesmo, não sentem pressão ou pelo menos não as demonstram.

 

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Com o tempo aprendem a controlar essas emoções, é fundamental isso, não é que não as sintam ou não as tenham, mas tem um maior domínio sobre elas. O que não pode faltar em nenhum dos casos é a alegria, sentir prazer naquilo. O dia em que perder aquele frio na barriga não faz mais sentido continuar, vai estar lá apenas pelo dinheiro ou obrigação e é triste isso.

  No Muaythai além de tudo isso você sabe que vai subir ali com alguém onde o objetivo é te bater, te machucar. Sim eu sei, é trabalho, é seu colega de profissão mas sabe aquela história  “Rosto que mamãe deu carinho marmanjo nenhum põe a mão”!? É isso! Porra, corre sangue aqui, tem que ter brio.

Vejo atletas que ao receber um golpe forte se acuam, diminuem, quase somem, e vemos outros que quando recebem esse mesmo golpe fecham a cara e andam pra frente, bravos, até o adversário pensa: “Não devia ter batido nele com essa força”, sabe massa de bolo, que quanto mais você bate mais cresce?!

Amigo é depois da luta, ali, naquela hora, é você, ele e um doido separando a briga, e só um sairá com o braço erguido. O treinador Léo Sessegolo que tem grande parcela de responsabilidade nessa fase recente de evolução dos brasileiros na Tailândia, compara seus atletas a soldados e é isso mesmo, dia a dia de quartel, disciplina na rotina,
respeitar a hierarquia e encarar suas lutas como missões. Entender o que deve ser feito, obedecer as ordens e cumprir cada missão.

Não me entendam mal, não estou dizendo que é seu inimigo e devemos ganhar a todo custo, não é isso.

Uma das lições mais valiosas que aprendemos com o esporte é o espírito esportivo, o FairPlay, respeitar seu colega de profissão, saber que assim como você, ele trabalhou duro para estar ali, que tem família muitas vezes assistindo, sonhos. O que digo é que vá e faça seu trabalho, sem gracinha, desmerecimento ou desonestidade, sempre dentro
das regras do jogo.

O maior respeito que pode demonstrar ao seu adversário é lutar com seriedade, não fazer nada menos que seu melhor, simples e objetivo. Já dizia o Racionais “Morrer como homem é o prêmio da guerra”.

Uma coisa que me deixa louco é ver atleta que acabou de perder descer do ringue rindo, na boa, isso é inaceitável!

Saber perder é diferente de gostar de perder ou não ligar pra derrota. Atleta não pode achar normal perder. Derrotas servem para amadurecimento e correção mas tem sim que ficar triste, bravo quando acontecer, por que vai acontecer, a questão é como vai lidar com isso, uma derrota não é o fim do mundo, mas deve-se aprender com os ensinamentos de cada luta, não repetir esses erros, e vender caro cada uma delas.

Uma vez lutei em Curitiba, lutei mal, perdi nos pontos. Quando acabou a luta perguntei a meu treinador o que ele tinha achado. Ele virou para mim e perguntou: “-Você lutou? Subiu no ringue mas lutar não lutou!”. Realmente não era meu dia, foi duro ouvir aquilo mas foi importante pra mim, até minha postura no treino mudou dali em diante.

Muitas vezes mais importante que a vitória é como foi o decorrer da luta, eu particularmente, lembro mais de um atleta que sempre faz guerra independente do resultado, do que daquele que ganha mas sempre  numa luta morna, do tipo “eu não te bato, você não me acerta”.

Cada luta é um degrau em sua carreira que pode ser subindo ou descendo e só depende de você. Reclamamos de desvalorização mas o que você faz para se valorizar? Quanto você acha que está valendo seu “passe”? Promotor
vai pagar bem para quem traz espetáculo, quem o público quer ver lutar, não para quem vai lá e se joga na primeira adversidade só para ganhar o valor da bolsa.

Não estou dizendo que tem que sair na porrada de qualquer jeito e virar briga, não é isso, é bonito ver atletas técnicos que se mantém à frente da luta, isso faz parte, sabem jogar o jogo, anulam a força, não se machucam, é diferente do que estou falando, entendam essa diferença.

Independente do seu estilo de lutar você atleta tem que QUERER GANHAR, é essencial isso. Lógico que todos querem ganhar mas tem os que buscam até as últimas consequências e os que simplesmente esperam a luta acabar na esperança que ao final seu braço seja erguido?

Durante a luta naturalmente seu foco se fecha, nessa hora sua atenção deve estar em três pontos: no adversário e no que você tem que fazer com ele; no árbitro e seus comandos; e em seu córner e suas orientações.

Se é frequente começar o round e logo pensar na torcida, no relógio, no gongo final, não se concentra no que tem que fazer nesse meio tempo, fica preocupado, ansioso esperando o final dá luta, tem alguma coisa muito errada.

Do dia em que se marca a luta ao dia após a luta é uma jornada, faça valer a pena cada segundo, cada gota de suor, sangue e lágrimas. Pior coisa do mundo é acabar uma luta com a sensação que podia ter feito mais. Seu maior adversário será sempre você mesmo. Vença essa batalha interna e poderá conquistar o mundo. E o primeiro passo é saber o que quer. VENCER!