Confederações: assim é ou assim deve ser?

Confederações: assim é ou assim deve ser?

29/08/2017 6 Por Leo Monteiro

É fácil conformar-se com as coisas do jeito que estão. Não é preciso pensar, não é preciso agir, é só deixar o barco seguir. Mas quando fazemos um exercício rápido, analisamos que tudo é como é porque permitimos que assim seja, ou que assim continue.

Por vezes, quando a situação “assim é” não nos afeta diretamente ela continuará assim, visto que empatia com a causa alheia não é o forte do brasileiro. Percebemos que o “assim é” é injusto, que deveria ser de outra forma, mas demandaria tempo, pensamento, ação.

Lemos que a corrupção corre solta na confederação de taekwondo, mas isso não tem nada a ver conosco, problema deles. Veja nessa entrevista como a corrupção afundou o esporte aquático brasileiro onde seu presidente foi preso. Não conheço a fundo as confederações de muaythai, mas os melhores lutadores e prospectos brasileiros estão fora delas, logo há problemas. Se conhece ou tem provas sobre o envolvimento de dirigentes em corrupções, faça a denúncia no site do MPF clicando aqui.

O “assim é” acontece porque permitimos que o modo como as coisas aconteciam no passado, continuem ditando nosso presente e afetando nosso futuro, muitas vezes por acreditar que nada vai mudar. Mas pode e vai mudar.

Há 10 anos iniciamos uma jornada para a Tailândia que nos abriu os olhos e percebemos que o “assim é” estava errado. E não estava pouco, estava todo torto. Tudo que achávamos que era muaythai era uma farsa, uma mistura de várias lutas que da luta original tinha só os shorts e olhe lá. Mas sem entrar no mérito dos culpados do passado, o que importa é o futuro.

Com internet e muitas viagens, resolvemos aplicar o “é assim que deve ser”. O que existe não está bom, mas temos capacidade de mudar. Quem imaginaria que em 10 anos conseguiríamos realizar tantas mudanças positivas no esporte? Quem imaginou que um dia seria possível lutar sem precisar pagar inscrição? Quem imaginou que teríamos órgãos de arbitragens profissionais como existem hoje em dia? Quem imaginaria que um dia haveria eventos praticamente todos os finais de semana? Que teríamos jovens de 15 anos fazendo lutas principais?

Mas conseguimos, revertemos 30 anos em 10 anos. Alguns professores ficaram relutantes, se amarraram ao passado conservador com medo das mudanças, medo de perder alunos. O processo foi gradativo e muitos estão adaptados aos novos eventos, aos métodos de treinamento, as aulas comerciais seguem divertidas, cheias e agora com muaythai. 

A FEPLAM hoje é parceira do Yoksutai, mas independente da ligação, vejo que é um dos poucos órgãos que tentou se atualizar nos últimos 10 anos. Treinaram seu corpo de árbitros, continuam promovendo eventos iniciantes e profissionais, colocaram cotovelos e regras próprias de muaythai. Mesmo que o foco deles seja principalmente organização de eventos, já é alguma coisa.

Está sendo formado um movimento de baixo para cima e as confederações começaram a entender que esse lance de “assim é” não cola mais e que estamos nos organizando. Os alunos e professores de muaythai não acreditam mais nessas instituições, visto que apenas 32% do público de muaythai é filiado a alguma federação (dados preliminares do Censo Yoksutai 2017). 

Vejo isso como algo preocupante, pois no final do dia, não existe em quem se confiar. Parte-se do princípio que uma confederação é um órgão para unir todos os praticantes, que fomentaria o esporte, que resolveria brigas e abusos, ofereceria treinamentos, discutiria julgamentos, mas não, hoje em dia a maioria trata-se de caça-níqueis que buscam vender graduações para quem puder pagar o preço.

Existem problemas graves na organização do muaythai, mas se não tomamos uma atitude para mudar, ou sugerir outros métodos de gerenciação, nada mudará. Não podemos aceitar que uma pessoa seja presidente vitalícia dessa ou daquela confederação. Os praticantes mais experientes ou professores, devem votar e decidir, pelo menos “assim deveria ser”.

Independente do picareta aqui ou ali, todos estão no mesmo processo de aprendizado, e quanto mais tempo viveu-se nas antigas regras, mais difícil será para se adaptar ao verdadeiro esporte. As dificuldades de um garoto de 15 anos com 3 anos de treino não são as mesmas de um professor com 30 anos de prática e vícios, que precisará corrigir. Reaprender a andar, a clinchar, a chutar, mas difícil não é sinônimo de impossível e qualquer desejo de mudança sempre partirá de nós.

Leia como foi o exemplo francês aqui.

Dificuldades, dores e desilusões do passado não podem ser uma desculpa para se acomodar e aceitar o que lhe é imposto. Tem um filósofo alemão chamado Nietzsche que diz: “É preciso tomar cuidado para não deixar o passado enterrar o presente”.

Acho que poderíamos começar a pensar “como deve ser” uma confederação. Quais interesses ela deve cobrir? Quem ela deve auxiliar? Quem vai pagar os custos? Eu tenho uma ideia, provei que mudança é possível em menos tempo que qualquer um imaginaria, mas quero saber o que vocês acham.

Sugestões?

Facebook @Yoksutai

Facebook @Leoamendoim

leo@yoksutai.com