Bem-vindo ao Coliseu

Bem-vindo ao Coliseu

15/08/2017 1 Por Nathalia Viana

Lutador bom não é aquele que ganha todas. Não é aquele que supera sem nenhuma dificuldade o seu oponente. Não é aquele que é inteligente a ponto de não precisar ser absolutamente nada agressivo para vencer. Porque lutador bom mesmo é o que dá show, é o que nunca deixa de acreditar na vitória, é o que continua lutando quando o resultado já está garantido. É esse cara que todo promotor quer colocar no seu evento. Esse cara que a gente paga para ver.

Sabe quando a luta termina e os dois lutadores não estão preocupados com o resultado? Eles simplesmente se abraçam e comemoram juntos o lutão que acabaram de fazer? Isso é muaythai para mim. É você ouvir o último gongo e saber que você fez tudo, e fez bonito. A mão que é levantada é outra história.

Ninguém quer perder, ninguém gosta disso e ninguém deveria se conformar com isso, mas no final das contas luta não passa de um espetáculo. É só parar para analisar os grandes eventos de luta da atualidade. UFC em Las Vegas com um verdadeiro show e bilhões de dólares envolvidos. Agora pensa em como isso começou. Se o Coliseu e aqueles filmes de época como Russel Crowe interpretando o protagonista de Gladiador te passou pela cabeça, você está acompanhando o raciocínio.

Não vou entrar na questão política do assunto e sobre como o “Pão e Circo” era utilizado para tirar o foco de déspotas tiranos e corruptos e manter a população pensando em assuntos que não fossem revoltas — embora seja um ótimo assunto. Quero falar sobre como as batalhas sempre nos empolgaram. Como sempre torcemos para o menor ou mais fraco sair vitorioso. Mas também não tem graça quando um único golpe já resolve todo o assunto.

Tem lutador que é assim, tempo ruim a toda hora. É só subir no ringue para saber que vai ser lutão, e pode ser o gigante que for do outro lado, ele parece vilão de filme de ação ruim: você já achou que ele tivesse morrido umas três vezes, mas ele levanta e atormenta a vida de novo.

Um ótimo exemplo é o Marcelo Pelegrini. Eita menino difícil de cair. E se cair, vai levantar já andando para a frente. Pode reparar que quando árbitro separa a luta, tem que ficar empurrando o cabra para trás, porque se simplesmente soltar, ele vai voar em cima do adversário na mesma hora. Eu amo assistir ele lutar.

E no Torneio Yoksutai eu descobri mais dois moleques assim. Dionatha Tobias e João Victor Bahia. Cito apenas os dois porque foram os que me surpreenderam, porque todos aqueles meninos são verdadeiros guerreiros.

O Dionatha me pegou desprevenida. Ele é aquele menino mirrado que quando é colocado lado a lado com João Victor Bahia ou João Jesus (seus dois últimos adversários), o seu primeiro instinto é achar que não vai dar nem para o cheiro. Que fique claro: não estou falando de habilidade técnica, porque isso tem de sobra, a questão aqui é a estrutura física mesmo. E não é à toa que um dos contos bíblicos mais difundidos seja o de Davi e Golias, porque como dá gosto ver um baixinho vencer um gigante. E Davi, aliás, Dionatha, fez isso com maestria. Duas vezes consecutivas. Sorte? Talento? Não sei, mas que dá gosto de ver o baixinho virar o jogo, isso dá.

E o João Victor Bahia. Que lutador. Se você vai dizer que ele perdeu todas as lutas do torneio, nem desperdice o latim. Bahia fez as melhores disputas em todas as rodadas. Não deu moleza para ninguém e empolgou geral. Bahia é mestre em fazer luta boa, eu mesma nunca vi uma luta ruim dele (não vi todas, mas vi boa parte, vi o suficiente para saber que não é coincidência). Ele é aquele cara que te obriga a lutar bonito. Você pode até ganhar, mas vai ter que jogar duro.

Desde a primeira rodada me cortou o coração ver ele cabisbaixo, vestindo uma camisa para homenagear a mãe e com os olhos cheios d’água após sair sem a vitória. E eu só conseguia pensar “que é isso? você lutou demais, devia comemorar”. Mas perder é foda, com o perdão da palavra. Porque por melhor que seja o espetáculo, o que você fez não foi o suficiente. Dá aquela sensação de não ser bom o bastante. Mas ganhar uma luta não significa ser melhor que seu adversário. A vitória é ingrata, você pode até trata-la com carinho, mas ela não é de se apegar e daqui a pouco já está com outro. Por isso, volto a dizer: o melhor lutador é aquele que empolga, que só faz guerra, que você queria mais um round pelo menos. Porque em cima do ringue não é igual a filme e nem sempre o “mocinho” ganha, mas sempre vale a pena ver ele tentar.

Se você ainda não viu, clique aqui para assistir a luta de Yuri Piranha vs João Victor Bahia pelo Torneio Yoksutai 2017. Não esqueça de curtir nossa página no facebook, nosso canal no YouTube e nos visitar no yoksutai.com para saber o que acontece de melhor no muaythai.