De lixeiro ao topo do boxe mundial

De lixeiro ao topo do boxe mundial

05/10/2018 0 Por Leo Monteiro

Como o tailandês Srisaket Sor Rungvisai se transformou na nova sensação do boxe mundial

“No começo eu não gostava de lutas até que um dia meu pai perguntou se eu lutaria e me pediu para pensar”.

Na Tailândia a carreira dos lutadores normalmente começa dessa forma. Crianças são convidadas por parentes próximos a lutarem em pequenas feiras ao redor do país e assim complementam a renda familiar.

“Era muaythai eu era azarão entre os apostadores em 100:1 porque nunca tinha lutado” relembra. Isso significa que quem o escolhesse, caso ele vencesse, colocaria cem vezes o valor apostado no bolso. “Ganhei essa primeira luta por nocaute no primeiro round e comecei a lutar direto”.

Assim foi o início de Srisaket Sor Rungvisai, cujo nome verdadeiro é Wisaksil Wangek, hoje considerado o quinto melhor boxeador peso por peso pela mídia especializada.

Aos 13 anos mudou-se da pequena cidade de Srisaket no nordeste da Tailândia para a capital Bangkok. Após 10 anos conciliava a mediana carreira de lutador de muaythai enquanto também trabalhava como segurança, quando surgiu a oportunidade de viajar ao Japão no que seria sua estreia no boxe profissional.

“Fui para o Japão duas vezes, fui nocauteado duas vezes. Voltei a trabalhar, agora como coletor de lixo e apareceu uma terceira luta no interior da Tailândia. Já tinha decidido que se perdesse iria me aposentar do esporte e só trabalhar, mas empatei”.

Na quarta peleja conseguiu a primeira vitória sendo novamente convidado a lutar no Japão. Foi novamente derrotado, mas dessa vez na decisão dos juízes. Com três derrotas em cinco lutas e apenas uma vitória, via em seu cartel desastroso que as chances de sucesso no boxe profissional estavam cada vez mais remotas.

“Foi um começo difícil e a essa altura eu já tinha um filho. Ele me deu forças para continuar lutando e acabei assinando com meu novo empresário”, que o tirou do pior momento da carreira. Enquanto trabalhou como lixeiro, afirmou em entrevistas que chegou a revirar o lixo por comida.

Após a terceira derrota no Japão, Srisaket embalou seis vitórias consecutivas, disputou e venceu o cinturão asiático WBC em 2011.

“Na verdade nunca sonhei muito mais que isso. Já era suficiente e uma grande realização ser campeão asiático”.

Dois anos e dez combates depois, passou pelo japonês Yota Sato quando conquistou o sonhado cinturão mundial WBC, mas após uma defesa como campeão, foi derrotado pelo mexicano Carlos Cuadras em 2014.

Quando perdeu o título recomeçou do zero e após 15 vitórias consecutivas, contra adversários medianos, conseguiu sua chance de ouro. Enfrentaria Roman Gonzalez, o nicaraguense considerado melhor lutador peso por peso pelos jornalistas esportivos.

Na época “Chocolatito” era o nome a ser batido. Figurava no ranking peso por peso à frente de nomes como Manny Pacquiao e Floyd Mayweather, além de ser campeão linear WBC.

Srisaket era coadjuvante. Faria sua primeira viagem aos Estados Unido onde seria uma das atrações num dos ringues mais famosos do mundo, o Madison Square Garden em Nova Iorque. Contudo, a mídia especializada previa uma derrota acachapante.

Assim como em sua primeira luta de muaythai, o tailandês era novamente azarão, mas venceu, convincentemente, o melhor boxeador do planeta. Na revanche imediata marcada após seis meses, Srisaket domina completamente e nocauteia o Roman Gonzalez no quarto round.

“Quando criança eu nem conhecia boxe, jamais imaginei que um dia pudesse ser campeão mundial” diz o campeão super moscas que é inspirado pelo vizinho filipino, campeão em oito categorias de peso e detentor de onze títulos mundiais.

“Manny Pacquiao é canhoto como eu e temos o mesmo histórico [infância pobre]. Ele é muito versátil, horas mais agressivo, horas mais técnico”.

Srisaket Sor Rungvisai (46-4-1, 41KO’s) de 31 anos, defenderá seu cinturão contra o mexicano Iran Diaz (14-2-3, 6 KO’s) de 28 anos em Bangkok no próximo sábado (6).

O palco será o One Championship, segundo maior evento de MMA do mundo atrás apenas do UFC em receita e público. Trazendo uma nova proposta que oferece artes marciais como entretenimento, a promoção hoje além do MMA tem ofertado espaço para outras modalidades como jiu-jitsu, muaythai, kickboxing e boxe.

Além de Srisaket defendendo seu cinturão WBC em casa pela primeira vez, outra atração será a chinesa Kai Ting Chuang (17-5) defendendo seu cinturão do ONE kickboxing peso átomo contra a tailandesa Stamp Fairtex (60-15-5).

O único brasileiro no card é o paulista Leandro “Brodinho” Issa (16-6) de 35 anos. O faixa preta campeão mundial de jiu-jitsu, hoje radicado em Cingapura, enfrentará no MMA o estreante tajique Muin Gafurov (15-2) pelo peso galo na primeira luta do card principal.

O evento será transmitido ao vivo neste sábado pelo YouTube, Facebook, Twitter e APP da companhia à partir das 17h30 em Bangkok (7h30 no Brasil).

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Fotos: Carlos Cinco | One Championship