Esse tal muaythai fitness

Esse tal muaythai fitness

28/03/2017 0 Por Nathalia Viana

Desde que comecei a praticar muaythai, percebi que há entre muitos treinadores, atletas e praticantes uma repulsa pelo muaythai fitness. Eu não entendia muito bem a razão, mas de cara quis ter certeza de que não era o que eu fazia.

Sim, muaythai virou moda no mundo fitness, principalmente como método eficaz para perder peso e tonificar os músculos, o que se originou com musas fitness fazendo vídeos enquanto batem manoplas de forma desajeitada e pouco técnica (pelo menos nos vídeos que chegaram até mim). É claro que dói ver alguém usando calça legging e tênis enquanto faz movimentos de forma errada, e que muitas vezes nem são do muaythai. Especialmente quando se dizem praticantes do esporte e sendo aplaudidos pelo público e sustentados por grandes marcas, enquanto a realidade dos nossos atletas é tão árdua e os patrocinadores nem sequer os notam. Mas será que a reação mais inteligente a tudo isso é esse ódio todo que vemos sendo destilado nas redes sociais?

Quantas pessoas você conhece que procuraram a luta inicialmente com o único objetivo de perder peso? Ou de manter um corpo saudável? Eu mesma sou uma dessas pessoas, assim como conheço vários outros praticantes e também atletas que descobriram o esporte quando buscaram uma alternativa à maçante musculação como forma de emagrecer. Ok, eu sou apenas alguém que teve a curiosidade de saber como é subir no ringue, mas quando eu comecei a praticar o muaythai, meu único objetivo era estético, mas o esporte me ganhou. Quer um exemplo melhor? A atleta Bruna Ramires (Adaylton Freitas Muaythai Gym) pesava 84 quilos no ano de 2013 e começou a praticar o muaythai para emagrecer. Hoje, com 22 quilos a menos, luta entre 58 e 60 quilos, foi premiada duas vezes como melhor atleta feminina de 2016 (pelo Prêmio Yoksutai e pela AMTI) e se prepara para ir para a Tailândia.

“Ah! Mas é mulher, mulher faz muaythai para emagrecer mesmo…” Claro que não. Mas podemos citar como exemplo masculino de mesma trajetória o Felipe Morais (Omnoi), o Lipão, que começou a treinar no final de 2011 pesando 120 quilos e atualmente luta nas categorias 73,5 ou 75 quilos, com mais de 40 lutas e três viagens para a Tailândia (vou citar apenas esses dois casos para não me estender, mas com certeza você conhece alguém que começou a treinar para emagrecer, se apaixonou e hoje não vive sem o muaythai).

Antes e depois do atleta Felipe Morais. Fonte: acervo pessoal do atleta

O que quero dizer com tudo isso é que o famigerado muaythai fitness não é uma ofensa ao nosso esporte, mas sim uma oportunidade. A modinha criada pelas musas fitness são um canal para atrair cada vez mais praticantes e para mostrar essa modalidade para o público, que ainda sabe muito pouco ou nada sobre ela. Que  venham as Puglieses, as Fernandas Souzas, as Sabrinas Satos!! Para o esporte isso é ótimo! Ruim é a atuação dos treinadores delas! Aí sim deve estar o verdadeiro alvo de toda essa repulsa. Pois podem até ser grandes preparadores físicos, cursados em faculdades renomadas em Educação Física ou o curso que seja, mas não sabem absolutamente nada da técnica dessa luta. Da forma como o muaythai é ensinado por eles, não só os praticantes correm risco de se machucar, como deixam de aproveitar o benefício estético que essa prática realmente oferece.

Não é só uma questão de aprender muaythai de verdade, mas se você realiza o movimento de forma correta, as mudanças no seu corpo vão aparecer muito mais rápido!!

Agora, cabe ao professor/treinador/seja lá como você se intitule, aproveitar essa oportunidade da forma correta. Não é porque o objetivo do seu aluno é simplesmente emagrecer que você vai transformar o muaythai em uma aula de fit dance com chutes e socos. Nada contra o fit dance, mas se seus alunos quisessem esse tipo de aula, eles não comprariam luvas e bateriam em sacos, eles iriam direto para essa aula. Mas também não adianta nada ensinar o muaythai, mas não se preocupar em corrigir aquele aluno que não quer lutar, apenas emagrecer.

Então respeite seus alunos e seus colegas que se esforçam tanto para fazer o esporte crescer e ensine o muaythai de verdade! Até porquê, quero ver não emagrecer depois de correr, pular corda, bater saco, bater aparador, ser amassado no clinche, fazer flexões, barra, abdominais… O treino real de muaythai é mais do que suficiente para levar o praticante a atingir esse objetivo, então não tem porque inventar. E se o problema é fazer sparring, vale lembrar que o equipamento de proteção está lá por uma razão e a figura do treinador está lá para garantir que o respeito entre os alunos aconteça. Muitas vezes os alunos não gostam do sparring porque os próprios professores incentivam o uso excessivo de força, ou não zelam para que ele não aconteça desnecessariamente.

Antes de destilarmos tanto ódio contra quem procura o muaythai fitness, vale colocar a mão na consciência e avaliar o que você tem feito para que os praticantes dele não procurem pelos picaretas.