Muito prazer, Muaythai

13/09/2016 0 Por Nathalia Viana

Você deveria fazer uma luta, se treinar e realmente se dedicar, você vai se sair muito bem. Eu treinava há menos de um ano quando ouvi isso pela primeira vez e a minha reação foi imediata e determinada: rir.

Por que diabos eu iria lutar? Por que arriscaria me machucar se eu posso praticar o esporte que eu tanto amo na segurança da minha academia protegida por equipamentos? Eu não supunha nenhuma razão para que alguém quisesse subir em um ringue… Ainda.

Até que eu finalmente começasse no Muaythai eu ouvi muitos nãos. O primeiro foi quando um colega professor em uma academia me disse que era uma luta muito violenta, com calejamento, e que NÃO era para meninas. Na segunda vez, insisti e procurei uma academia, na qual o treinador insistia em NÃO falar comigo e responder todas as minhas perguntas sobre as aulas para o meu marido, que foi apenas me acompanhar e ainda não tinha a menor pretensão de fazer o esporte. Quando encontrei um local que supostamente oferecia a luta, NÃO era o Muaythai que eu estava aprendendo, e sim uma mistura de kickboxing, taekwondo e uma pouco da arte tailandesa. Quando finalmente encontrei uma equipe que oferecia o que eu buscava, eu NÃO acreditei que fosse capaz de treinar entre os homens, muito mais fortes e experientes que eu.

No meu primeiro sparring, não fazia a menor ideia do que estava fazendo. Troquei com uma garota muito maior e mais experiente que eu. A mão dela entrava na minha guarda inexistente sem o menor esforço e eu mal conseguia tocá-­la. Eu não pensei em parar. No dia seguinte disse para meu treinador que eu queria (e precisava) fazer mais sparrings. Não podia simplesmente aceitar que não era boa nisso, e queria sentir aquele gostinho de novo. E me empenhei ainda mais nos treinos.

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Poucos meses depois fui assistir à luta de um companheiro de equipe em um evento da FEPLAM. Meus olhos brilhavam. Eu não entendia quase nada sobre arbitragem e pontuação, e muitas vezes não compreendia o resultado das lutas, mas fiquei maravilhada com o espetáculo, com o clinche, a torcida gritando a cada golpe… Meu amigo venceu a luta lindamente naquela noite e eu experimentei algo simplesmente inexplicável. No dia seguinte acordei com uma vontade incontrolável de treinar.

Segui treinando sempre com outros objetivos, praticar alguma atividade física, me sentir bem com o meu corpo, me sair melhor na próxima graduação, chegar no nível daquela colega de equipe que é melhor que eu… Mas eu sempre queria mais, e meus objetivos nunca se estagnaram.

Depois de tanto ouvir “você deveria fazer uma luta” tentei ao menos imaginar como seria estar em cima do ringue. Imaginei cada etapa: o treino, o sacrifício de bater peso, a tensão antes da luta, ouvir o narrador anunciar o meu nome e subir no ringue diante de tantos olhares. Não sou capaz de descrever exatamente como me senti ao fantasiar tudo isso, mas quando me vi, eu estava sorrindo.

Percebi ali que o Muaythai é um sonho que nunca parou de crescer. Não deixei todos os nãos que ouvi me impedirem e diminuírem minha vontade de ser maior, porque o Muaythai entra na gente devagarinho, e de repente você se pega fazendo sombra no ponto de ônibus quando toca aquela música do treino no seu celular.

Hoje, são muitos sonhos. Fazer minha primeira luta, treinar na Tailândia, ensinar aquilo que aprendi e ajudar o esporte a crescer. Porque já tive muitas paixões, já me dediquei a diversos esportes, tive vários projetos e sonhos. Mas nunca conheci nada que entrasse na sua vida e transformasse cada aspecto, sua forma de pensar, seu caráter, seu estilo de vida, seus sonhos… Até que conheci o Muaythai.