Parem de julgar uns aos outros

Parem de julgar uns aos outros

25/04/2017 2 Por Nathalia Viana

São tantas picuinhas nesse muaythai que é até difícil acompanhar. Em tempos de redes sociais, essas maravilhosas ferramentas que nos auxiliam a divulgar o nosso esporte e o trabalho sério de tantos, também são o berço de discórdias.

Caiu na internet, já era. Uma vez na rede, é impossível realmente apagar algum conteúdo. E como você se sentiria se fosse publicado hoje um vídeo de treino seu de 5 anos atrás ou mais? Será que as coisas mudaram muito?
Pois é. Não há nenhum motivo para sentir vergonha, porque todos estamos no mesmo barco. O nosso esporte, embora já venha sendo praticado no Brasil há muitos anos, só se redescobriu muito recentemente. O que era treinado aqui até não muito tempo atrás, se assemelhava muito mais ao kickboxing do que ao muaythai, e muita coisa, como o calejamento, tinha mais a ver com filmes do que com artes marciais.

Mas o esporte mudou. E por isso, assistir a um vídeo antigo deve ser motivo de orgulho por toda a evolução que você teve ao longo de sua trajetória. Corremos atrás de informação, eliminamos práticas que colocavam em risco a integridade do atleta, paramos de pular, adequamos nossas regras àquelas utilizadas na Tailândia e tiramos de nossos treinos os traços que ainda restavam de outras lutas, como o kickboxing e o boxe.  Mas ainda é bastante comum ver tudo isso feito em academias por aí, e muitas vezes lotadas de alunos.

Sim. Ainda tem muita gente ensinando o velho “maitai” por aí. Treinos com pêndulo, alunos pulando e fazendo sequências de golpes sem equilíbrio nenhum ou golpes que são de outras lutas. Mas a questão é: isso não aconteceu com todos? É claro que hoje há muito mais informação disponível, mas o ritmo de disseminação dela não é homogêneo. É claro que correr atrás e pesquisar ajuda muito, mas não vivemos em um mundo ideal, e além de ainda termos sim uma boa parte de nossa população com acesso um pouco mais restrito à internet (quem não tem Wi-Fi em casa ainda tem dificuldade em assistir vídeos), ainda há sim a dificuldade de muitos em dar o braço a torcer e admitir que tudo que seu mestre, por quem você sempre teve um imenso respeito e admiração, te ensinou precisa ser reaprendido. Essa tarefa pode não ser tão fácil para todo mundo. Mas quem estiver disposto a crescer vai acabar se achando, e quem não estiver vai ficar para trás naturalmente quando seus atletas não derem resultado.

Me lembro de acompanhar uma página do Facebook que prometia denunciar a picaretagem do muaythai. Havia certas figuras que estrelavam posts quase que diariamente, com vídeos cheios de piruetas e golpes sem sentido nenhum, como socos ou cotoveladas no bíceps do adversário (sim, isso é real). Mas também havia vídeos que criticavam simplesmente a falta de estrutura de academias. Até que um dia se criticou um vídeo em que posteriormente descobriu-se que o professor abriu a garagem de sua casa para receber alunos gratuitamente, e embora os treinos ocorressem de forma precária e pela falta de tatame muitos treinassem de tênis, os alunos eram técnicos.

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Conto essa história porque quando criticamos uma postagem em rede social, em geral não temos acesso ao contexto do conteúdo. Há quanto tempo aquele aluno meio torto treina? Ele tem alguma limitação física? Será que aquele não foi o último round de um treino puxado e o atleta já não estava mais conseguindo manter a mesma postura? Será que ele não está lesionado? Será que naquele dia o professor não quis fazer um treino mais “divertido” na turma comercial? Será que o vídeo é realmente recente?

Sim, tem muitos picaretas por aí, e isso precisa ser combatido, mas também tem muita gente comprometida que ainda não teve a oportunidade de aprender. Se em vez de fazer sua postagem no Facebook zuando alguém que ainda faz as coisas erradas você estivesse disposto a ajudar, esse muaythai iria muito mais longe.

Conversem, marquem os amigos em vídeos ou postagens que poderão ajudá-los, se você tem conhecimento faça um texto informativo na sua rede social em vez de cutucar os outros com chacotas. Abra espaço no seu seminário para um treinador comprometido que não tem condições financeiras de se atualizar.

Lembre-se que ajudar os outros a crescer não te diminui em nada, pelo contrário! É muito melhor ser um grande nome em um grande esporte do que o fanfarrão de um esporte que não cresce por briga de egos. E se você é aluno, pesquise sobre a equipe na qual você treina e sobre seu professor, procure vídeos de treinos e compare com o que está sendo passado dentro da sua academia. Se a coisa estiver muito diferente, desconfie. Lembre-se que é o seu dinheiro, e se você está pagando para aprender muaythai não pode se conformar em aprender qualquer coisa.

Dica: está começando agora e não sabe ainda onde encontrar conteúdo confiável? Siga as páginas de atletas e treinadores que estão se destacando no cenário nacional. Se inscreva no canal do Yoksutai no Youtube para acompanhar as postagens com informações atualizadas sobre o muaythai tanto no Brasil quanto na Tailândia. Vá a eventos e assista lutas, no Youtube você pode acompanhar as lutas tailandesas pelo Muay Ties e as brasileiras pelos canais Portuários Stadium TV, Sip Sam News, Lino Edition, Foto Pelea e alguns eventos possuem páginas próprias de divulgação de vídeos. E para aprender sequências de golpes sem medo de passar vergonha, siga o Evolve, que tem páginas no Facebook e canal no Youtube (o conteúdo costuma ser em inglês, mas é bastante didático e dá para entender mesmo sem falar a língua).