Profissional do Muaythai

Profissional do Muaythai

17/06/2019 0 Por Leo Monteiro

Pensando alto esses dias enquanto escrevia um projeto, me dei conta de como mudou o julgamento e treinamento do muaythai de 10 anos para cá. Conseguimos abrir a cabeça das pessoas que, além de treinar de outra forma, precisaríamos mudar nosso modo de analisar as lutas.

Confesso que perdi as contas de quantos cursos de arbitragem e julgamento já dei no Brasil e até na Tailândia. Foi uma quebra de paradigma. Normalmente nos preocupávamos só com o treinamento dos atletas sem nos importar muito quem julgaria as lutas.

Por vezes poderia ser alguém que entendesse de lutas. Poderia ser o aluno mais graduado da academia. Poderia ser um juíz de outra modalidade. Poderia ser alguém ali na hora, de boné e bermuda mesmo. E diversas vezes foi assim, conseguem lembrar?

Hoje vejo alguns dos meus ex-alunos que realmente aprenderam a pontuar uma luta de muaythai. Tem uns dois que realmente pegaram o esquema e não acertam resultado por acaso. Outros não dominam o assunto, mas perceberam que como em qualquer profissão, mesmo naquelas que mal te pagam, estudo e dedicação são imprescindíveis. Conseguimos ensinar alguns dos porquês e boa parte do Brasil segue o modelo dos grupos de arbitragens.

Primeiro profissionalizamos o treinamento com os tailandeses mostrando como era a rotina. Depois conseguimos organizar a arbitragem. Atualmente há um crescente mercado de fotógrafos e videomakers, pessoas aptas a registrar o treinamento, os bastidores, a preparação.

Já registrar a luta em si é um caso à parte porque na maioria dos casos, o evento não tem iluminação razoável deixando esse profissional sem recursos para trabalhar. Porém, atletas e equipes entenderam que ter um portfólio, vídeos e highlights é importante para conseguir melhores lutas. E espero que num futuro próximo consigam melhores patrocinadores também.

Alguns lutadores são comunicativos por natureza, outros são verdadeiros bichos do mato. Não importa qual seu caso, se é lutador e pensa em viver de muaythai, ou fará sua comunicação por conta, ou vai necessitar do serviço de um assessor de imprensa, relações públicas, marketing digital, seja lá qual for o nome que pretenda usar.

É aquela pessoa que vai te ajudar a atualizar suas redes sociais, responder seus fãs, engajar pessoas, fazer releases – sem erros de português por favor – enviar para os meios de comunicação. A ponte entre o lutador ou treinador, e seu público e imprensa. Se pretende chegar ao próximo nível, acredito que esse seja o caminho.

O passo seguinte é profissionalizar o show, deixar o evento de muaythai como algo imperdível para todos. Para o lutador, porquê sabe que terá toda a exposição de mídia e público. Porque participando desse evento, bem organizado e divulgado, ele ganhará uma bolsa digna e não precisará correr atrás de 30h de aulas por dia pulando de academia em academia para dar aulas. Porque naquele evento terá somente atletas bem treinados e profissionais, que cumprem o peso e a hora de chegada. Porque ali terá horário para começar e horário para terminar. Porque os patrocinadores estarão presentes, buscando divulgar suas marcas para um público que é grande e consome. Porque teremos uma comissão de arbitragem que pode até errar, mas ainda assim é muito melhor que aluno graduado de boné e chinelo. Porque ali vai estar bem iluminado, facilitando o trabalho de captação de imagens . Quem for assistir em casa terá acesso fácil e de qualidade conteúdo. E, se por algum motivo perder o evento, o espectador ou fã de luta poderá achar com facilidade quem ganhou, quem perdeu, fotos e toda a cobertura do evento.

Esse próximo passo será mais difícil porque o Brasil é grande. Temos alguns eventos maiores, mas são raros, sazonais e ainda não contemplam o número de lutadores profissionais. O MMA conseguiu, o jiu-jitu está chegando, kickboxing, as lutas olímpicas como boxe, taekwondo, wrestling, judô, karatê também.

A gestão dessa parte por trás dos bastidores é complexa, mas consegui entender que ser profissional do muaythai pode envolver outras áreas e pode gerar empregos. Passa pelo diretor e produtor do evento, chegando aos assessores e produtos voltados para o muaythai.

Será que não é hora de começar a investir nesse lado profissional e capacitar nossos especialistas? Eu acho que sim e deixo a reflexão, como que suas habilidades fora da academia poderiam alavancar o esporte?