Proibição ou fairplay?

Proibição ou fairplay?

18/10/2016 2 Por Leo Monteiro

Já disse que antes de ser um lutador, sou um amante de esportes em geral, mas o muaythai tem particularidades ainda inaceitáveis para o público em geral.

Nossa referência em esporte de contato é o boxe. Para nós brasileiros é a luta mais antiga, a única que passava na TV, a que tinha comentaristas, que as pessoas ficavam esperando esse ou aquele confronto. Antes dos anos 2000, além do boxe me lembro era assistir alguns eventos de judô, mas geralmente em ano olímpico. O MMA começou nessa época na TV à cabo, mas se popularizou bastante, visto que ano retrasado – 2014 – vi chamada para luta do José Aldo no Globo Esporte e no Jornal Nacional.

Tanto no boxe quanto no MMA, bater na nuca é proibido, inaceitável, plausível de desclassificação. Golpe baixo então nem pensar.

Mas no muaythai, e na Tailândia, pode. Quando eu digo pode, significa que na regra oficial WMC (Conselho Mundial de Muaythai) e SAT (Ministério de Esportes da Tailândia), não consta como falta. Se ainda não está convencido confira aqui.

Vale chute frontal na coquilha. Vale bater na nuca. Vale golpear nas costas. Vale golpear o cara caindo no chão. Claro que o árbitro ao perceber que o lutador não está mais apto a se defender e está virando de costas, intervirá, mas pode ser muito tarde.

Respondendo um comentário via facebook escrevi: “Tudo posso, nem tudo me convém”. Não sou religioso, mas essa frase é um versículo da Bíblia, aquele livro com quase 2.000 anos, mas bem atual em alguns pontos. Acredito que na sociedade, os limites devem ser impostos pela sua ética e princípios morais, por exemplo:

1- Andar dentro do limite de velocidade porque é lei, e é o mais seguro para você e quem está ao seu redor, ou só porque tem um radar ali na frente?

2- Achar uma carteira e devolver porque é o correto a se fazer, ou só devolver porque tinha um monte de gente te olhando?

A atitude correta pode acontecer por razões distintas. Apesar de ter feito a maioria das minhas lutas na Tailândia, nunca usei como recurso chutar o saco de ninguém, mesmo sendo válido. Também não dou teep na cara de ninguém, apesar de também ser legal. Também não chuto adversário caindo, apenas marco para ganhar meus pontos.

Não faço essas técnicas porque acho desleal, falta de recurso técnico, mas não tenho direito de apontar o dedo e falar que o fulano está errado. Não preciso de um radar me monitorando ou uma lei me proibindo.

Em compensação, se você me der costas por vacilo – não por cansaço ou desistência – se prepara que vai vir algo para te machucar. Primeiro porque não é falta, depois porque eticamente eu acho aceitável, mas moralmente no Brasil não é aceito.

Para mim o teep no rosto é desrespeitoso, mas válido, vários tailandeses usam, e não tem problema nenhum. O problema grave – para mim e para os tailandeses – é o teep quando seu adversário já estiver derrotado, cansado, só para humilhar mesmo. Não estou falando que é errado, apenas que eu, Leo, não faço.

A regra é uma só, e é aceitável criar um muaythai brasileiro. Antigamente tinham pavor de cotovelos, mas foram poucas vezes que tivemos cortes.

Acredito que a saída não é proibir, mas conscientizar os lutadores que apesar de ser uma luta, onde está um querendo machucar o outro, existem atitudes repulsivas e aceitáveis, mas todas são válidas, e cada lutador que faça seu julgamento analisando “o que pode, e o que lhe convém”.

E esse nocaute do Mayweather? Sujo, mas totalmente válido. Falta de fairplay? Total, mas 100% legal. Após o comando de luta, você só toca luvas se quiser, mas foram raras vezes que foram vistas atitudes como essa.

Não é porque o álcool é uma droga legalizada que eu vou sair bebendo e destruindo minha saúde. Até posso, mas não me convém. Tanto no muaythai como na vida, precisamos de mais bom senso, mais ética.

E só lembrando que em 15 anos de muaythai, nunca vi ninguém tentando ganhar a luta só dando teep no saco.