A regra do jogo: arbitragem e pontuação | parte 1: AMTI

A regra do jogo: arbitragem e pontuação | parte 1: AMTI

17/01/2017 6 Por Nathalia Viana

Em 2016, um dos temas mais polêmicos em torno do muaythai foi pontuação e resultado de lutas. Houve diversos resultados considerados polêmicos pelo público e amplamente debatidos (como a luta entre Ricardo Pacheco e Ravy Brunow pela EFN), assim como houve casos em que os grupos de arbitragem reconheceram erros publicamente. Um deles ocorreu na disputa de cinturão pela WKL entre Bruna Ramires e Patricia Silva — após os cinco rounds os juízes decidiram por um empate e deram mais um round de luta. Posteriormente, a arbitragem da Feplam veio a público por meio de uma nota informando que o round extra não deveria ter ocorrido. O outro caso, mais recente, ocorreu na luta entre Erik Espirro e Newthongrop no Portuários Stadium, quando a AMTI voltou atrás no resultado declarando posteriormente que o tailandês havia sido o vencedor do embate.

Não há nenhuma dúvida de que os grupos de arbitragem sérios têm se comprometido a buscar cada vez mais conhecimento na área e tornar a aplicação das regras aqui cada vez mais próximas da forma como é feita na Tailândia. Exemplo disso é que a AMTI fechou uma parceria com Thanong Poompanich para ampliar o quadro de arbitragem brasileiro com reconhecimento pelo Lumpinee Stadium e também a alteração de regras em conformidade com o que é aplicado na Tailândia: desde o final do ano passado passou a ser obrigatório o uso de coquilha de aço e os chutes baixos passaram a ser válidos.

Mesmo assim, ainda é muito comum haver uma grande divergência sobre resultados, tanto por parte do público, dos atletas e mesmo de treinadores. Assim, para ajudar a entender um pouco melhor como funcionam as regras do esporte e sua pontuação, procuramos os principais grupos de arbitragem para esclarecer essas questões e o resultado foram as entrevistas que divulgaremos a partir de hoje.

Entramos em contato com a AMTI – Associação de Muaythai Internacional, Feplam – Federação Paulista de Lutas e Artes Marciais, EKB – Escola Kamankan Brasil, CBMTT – Confederação Brasileira de Muaythai Tradicional e CBMT – Confederação Brasileira de Muaythai. Como os dois últimos não nos responderam, publicaremos hoje e nas próximas duas semanas as entrevistas com Alex Cobra, Ivam Batista e Sandro de Castro.

Acompanhe agora a primeira entrevista, com Alex Cobra, representante da AMTI.

 

Yoksutai – Fale brevemente da AMTI.

Alex Cobra – Primeiramente gostaria desde já de agradecer a oportunidade de mostrar nosso trabalho em um meio de informação tão bem conceituado. A AMTI surgiu com o intuito de padronizar o Muaythai, a partir de um seminário realizado em Santos na Matriz da CTC, com o Kru Manop, onde participaram várias equipes. Neste dia houve um entrosamento que nunca havia existido por vários motivos, e vimos que aquele momento poderia ser o ponto de partida para que pudéssemos nos unir e conseguir dar um passo importante no nosso esporte, sem ninguém ser melhor que ninguém ou dono da razão, simplesmente estudar juntos e juntos evoluir . Desde então começamos essa união para o bem de todos e então foi formada a AMTI. Acreditamos que fica impossível a prática de qualquer esporte sem profissionais qualificados e entendedores de regras.

 

Yoksutai – Há diferença entre os critérios de avaliação de uma luta profissional e uma luta amadora?

Alex Cobra – A AMTI busca o Muaythai da forma como ele é. Trabalhamos com lutas de card preliminar e principal, tentando extinguir as palavras amador e profissional. Tentamos chegar o mais próximo possível da forma como são os grandes Ginásios Tailandeses.

 

Yoksutai – Quais são os critérios para avaliar uma luta?

Alex Cobra – Os juízes avaliam vários pontos importantes para decretar a vitória de um NakMuay, repassar essa informação superficialmente pode causar dúvidas e atrapalhar mais do que ajudar devido a interpretações subjetivas de cada um. Para um completo entendimento que não deixe dúvidas no público em geral, aconselhamos a todos fazer os seminário/workshop da AMTI, pois assim, o interessado sairá com suas dúvidas sanadas e sua interpretação será direcionada ao entendimento da AMTI.

A regra do Muaythai é apenas uma, porém há interpretações divergentes entre as Entidades e Ginásios Tailandeses, que causam dúvidas entre os praticantes. Por isso, seminários e workshops são essenciais para saná-las e seguir o padrão estabelecido pela Entidade. Na Tailândia, por se tratar de um esporte popular, todos já sabem como cada um deve “jogar” de acordo com a Entidade, por exemplo, no Lumpinee se visa muito a força, no Rajadamnern já se leva muito em consideração o melhor estilo.

 

Yoksutai – Entre os critérios, há uma ordem de relevância? (Ex: se um lutador é mais forte e o outro mais técnico, mais posturado).

Alex Cobra – Sim, essa ordem é que define os pontos primordiais para que o juiz chegue ao resultado da luta.

 

Yoksutai – Há realmente golpes que valham mais ou o que conta é o golpe que machuca? Se houver, qual é a ordem de pontuação dos golpes?

Alex Cobra – A AMTI trabalha com golpes que causem danos no oponente, independente de qual seja o membro que desferiu o golpe.

 

Yoksutai – É possível notar que a atuação de cada árbitro é diferente (Ex: alguns deixam clinchar mais, outros menos), como essa atuação interfere na avaliação da luta?

Alex Cobra – A interrupção do árbitro se dá no momento em que há inatividade na luta. Especificamente se referindo ao clinche, no momento em que ambos os atletas parem de trabalhar, a luta será interrompida e reiniciada imediatamente com os atletas separados.

 

Yoksutai – Quais são os critérios para se abrir contagem?

Alex Cobra – A contagem é uma forma de proteger o atleta de algum golpe desferido pelo seu oponente ou um momento em que o árbitro veja necessidade de recuperação do atleta. A contagem deve ser sempre protetora ao atleta.

 

Yoksutai – Quais são os critérios para se aplicar nocaute técnico?

Alex Cobra – O árbitro tem por finalidade preservar a integridade dos atletas, dessa forma o nocaute técnico se dá quando observamos um atleta em grande desvantagem e sem nenhuma reação, podendo inclusive, se machucar gravemente.

 

Yoksutai – Que golpes são considerados ilegais?

Alex Cobra – São inúmeros os golpes ilegais, podendo destacar segurar nas cordas e golpear com 3 ou mais apoios.

 

Yoksutai – O que é necessário para que uma luta seja considerada empate? Há critérios de desempate?

Alex Cobra – Existem lutas muito equilibradas, ocorrendo isso a luta é decidida empate pelos juízes, pois não houve diferença de ambos os atletas nos critérios de avaliação. Uma vez dado o empate nas súmulas, não há qualquer critério de desempate posterior.

 

Yoksutai – Como funciona o julgamento dos rounds? Há rounds que valham mais que outros? Por que no muaythai é possível perder a luta mesmo tendo perdido apenas um round?

Alex Cobra – Falando amplamente, a corrida se inicia assim que o gongo de primeiro round toca. Se um lutador inicia a corrida no primeiro round e consegue impor seu objetivo de lutar, será pontuado a favor dele caso seu oponente não fizer o mesmo. Todos rounds possuem o mesmo peso, o que se deve avaliar é a corrida, tanto dentro de cada round, como de maneira geral na luta. Há a possibilidade de perder a luta perdendo apenas um round, isso depende do quanto que o atleta ficou para trás no quesito corrida nesse round que ele perdeu.

 

Yoksutai – Golpes “bonitos”, como giratórios, valem mais?

Alex Cobra – Não.

 

Yoksutai – Considerando que a arbitragem é feita por pessoas e, portanto, passíveis de erros, quando é identificado que houve um erro em uma luta, como proceder?

Alex Cobra – O ser humano é passivo de erro em qualquer profissão e não seria diferente na arbitragem. A AMTI busca incessantemente a excelência e tentamos minimizar os erros através de frequente reciclagem de nossos árbitros e juízes. Caso algum erro seja efetivamente reconhecido pela diretoria da Associação, o profissional será submetido a nova reciclagem e testes para que se encontre apto a exercer novamente a função. Muitas pessoas que questionam a arbitragem julgando um possível erro, são pessoas não detentoras de conhecimento de regras, hoje observamos até mesmos leigos apontando erros de arbitragem, sem nem ao mesmo saber qual critérios avaliamos. Todas lutas com resultados duvidosos são revistos pela diretoria da Associação. 

 

Yoksutai – Caso um dos lados discorde do resultado atribuído à luta, o que fazer?

Alex Cobra – Possuímos uma diretoria de arbitragem atuante, sempre presente nos eventos, orientamos caso haja alguma discordância referente a resultados, procure a Diretoria em data posterior ao fato.

 

Yoksutai – É muito comum ver pessoas discordando do resultado das lutas. Na sua opinião, por que isso acontece e como pode ser resolvido?

Alex Cobra – A Associação entende que reclamações sempre irão ocorrer, pois tratamos diretamente com pessoas e dessa forma sempre há pontos de vistas divergentes. Somente o estudo das regras fará o Muaythai evoluir e minimizará as reclamações. Somos a mais antiga entidade de Arbitragem no Brasil que julga o Muaythai como ele é, vivemos neste ramo há quase 4 anos e podemos afirmar que o Muaythai já evoluiu muito por conta da arbitragem. Hoje só treinamos e lutamos da forma correta porque temos equipes de arbitragem que julgam da forma correta, caso contrário iríamos continuar arcaicos. A única forma de diminuirmos as reclamações é instruindo a todos, por este motivo é essencial a realização de seminários e workshops, sempre visando engrandecer ainda mais o Muaythai.